segunda-feira, 28 de maio de 2012

Capítulo 58 - Darcy e Elizabeth noivos


Capítulo 58 - Darcy e Elizabeth noivos


- Minha querida Lizzy, por onde andaram? - foi a pergunta que Elizabeth recebeu de Jane quando ela entrou no quarto e de todos os outros quando se sentaram à mesa. Ela limitou-se a responder que se tinham distraído e caminhado mais longe do que esperavam, e, embora ela corasse, ninguém suspeitou da verdade.

A tarde passou calmamente, sem que nada de extraordinário ocorresse. Os noivos reconhecidos falaram e riram; os não reconhecidos permaneceram calados. Darcy não era daquelas pessoas em que a felicidade transborda em alegria; e Elizabeth, agitada e confusa, tinha consciência da sua felicidade, mas não a sentia propriamente; pois, para além dos obstáculos imediatos, ainda existiam outros à sua frente. Ela antecipava a reacção da família quando tomassem conhecimento da sua situação; sabia que ninguém gostava dele a não ser Jane; e receava mesmo que a antipatia deles fosse de tal ordem que toda a fortuna e importância de Darcy não pudessem dissipar.

À noite, ela abriu-se com Jane. Embora a suspeita não fizesse parte dos hábitos da Menina Bennet, desta vez Elizabeth esbarrou com a sua incredulidade.

- Estás a brincar, Lizzy. Não pode ser! Noiva do Sr. Darcy! Não, não penses que me enganas. Sei que tal coisa é impossível.

- Este começo não é, de facto, muito animador! Tu eras a única pessoa que eu contava que me acreditasse, e, se não acreditas, ninguém mais o fará. Porém, é verdade o que te digo. Ele ainda me ama e estamos noivos.

Jane olhou para ela, duvidosa:

- Oh, Lizzy! Não pode ser. Sei bem como tu o detestas.

- Tu não sabes absolutamente nada. Tudo isso é para esquecer. Talvez outrora eu não o soubesse apreciar como o aprecio agora, mas em casos como estes a boa memória é imperdoável. É esta a última vez que recordarei tais coisas.

Jane continuava atónita, e Elizabeth, de novo e com mais seriedade, a assegurou da verdade.

- Deus do Céu! Será possível! Porém vejo-me obrigada a acreditar em ti - exclamou Jane. - Minha querida, querida Lizzy! Eu gostaria... eu dou-te os meus parabéns... mas tens a certeza? Desculpa-me a pergunta... tens a certeza absoluta de que poderás ser feliz com ele?

- Quanto a isso, não pode haver a menor dúvida. Ficou decidido entre nós que seriamos o casal mais feliz do mundo. Mas estás contente, Jane? Gostarás dele para teu irmão?

- Muitíssimo. Nada nos poderia causar maior prazer, a Bingley e a mim. Conversámos sobre isso, mas achámo-lo impossível. E tu gostas realmente o suficiente dele? Oh, Lizzy! Faz o que entenderes, excepto casar sem amor. Estás certa da sinceridade e força do teu amor?

- Oh, sim! Quando eu te contar tudo, até acharás que eu amo demais.

- Que queres dizer com isso?

- Quero eu dizer na minha que, se te disser que gosto mais dele do que tu de Bingley, receio que te zangues.

- Minha querida irmã, não brinques e falemos a sério. Conta-me, sem demora, tudo o que achas que eu devo saber. Diz-me: desde há quanto tempo gostas dele?

- Isso aconteceu tão gradualmente que não sei bem quando começou. Contudo, creio dever situar esse meu amor desde aquela primeira vez que vi o belo parque de Pemberley.

Seguiu-se outra súplica para que ela falasse seriamente, e Elizabeth acatou-a, dando à irmã as garantias mais solenes da sua afeição por Darcy. Tranquilizada sob esse aspecto, Jane nada mais tinha a desejar.

- Agora sinto-me duplamente feliz - disse ela -, pois serás tão feliz como eu. Sempre o apreciei. Bastava, aliás, o amor dele por ti para que eu o estimasse para sempre, mas agora, como amigo de Bingley e teu marido, só Bingley e tu própria terão a sua precedência na minha afeição. Mas, Lizzy, foste muito astuta e reservada para comigo. Não me contaste praticamente nada do que se passou em Pemberley e Lambton! Tudo o que sei devo-o a outro e não a ti.

Elizabeth explicou-lhe a razão do seu segredo. Não quisera mencionar o nome de Bingley; e a incerteza dos seus próprios sentimentos fazia que ela calasse também o nome do amigo. Mas agora Elizabeth não podia esconder por mais tempo de sua irmã a participação de Darcy no caso de Lydia. Pô-la ao corrente de tudo e passaram metade da noite conversando.

- É demais! - exclamou a Sr.a Bennet, quando se encontrava à janela, na manhã seguinte. - Então não é aquele desagradável do Sr. Darcy que torna a vir na companhia do nosso querido Bingley? Que desejará ele, com todas estas visitas? Não vê que nos importuna? Por que não vai ele caçar ou fazer qualquer outra coisa, em vez de nos impor a sua presença? Que faremos com ele? Lizzy, será melhor levá-lo de novo a passear, para que ele não se atravesse no caminho de Bingley.

Elizabeth por pouco não conteve o riso perante proposta tão conveniente; contudo, ficou contrariada por sua mãe insistir em tão desagradável epíteto.

Assim que entraram, Bingley olhou para Elizabeth tão significativamente e apertou-lhe as mãos com tanto calor que não deixava dúvidas de que estava bem informado; e pouco depois ele disse em voz alta:

- Sr.a Bennet, não tem no seu parque outros caminhos por onde Lizzy se possa perder de novo, hoje?

- Aconselho o Sr. Darcy, Lizzy e Kitty - disse a Sr.a Bennet - a darem um passeio até Oakham Mount. É um belo e longo passeio e o Sr. Darcy nunca viu a vista.

- Será perfeito para os outros - replicou o Sr. Bingley -, mas creio que demasiado distante para Kitty. Não achas, Kitty?

Kitty confessou que preferia ficar em casa. Darcy declarou que tinha toda a curiosidade em ver a vista e Elizabeth consentiu silenciosamente. Enquanto subia as escadas para se ir aprontar, a Sr.a Bennet acompanhou-a, dizendo:

- Sinto muito, Lizzy, por te obrigar a suportar a companhia daquele homem tão desagradável. Mas espero que não te importes muito: é tudo para o bem de Jane, como deves perceber; e depois, não precisarás de conversar muito com ele, apenas de volta e meia. Portanto, não te exponhas e não te tornes inconveniente.


Durante o passeio, ficou decidido entre eles que o consentimento do Sr. Bennet seria solicitado naquela mesma noite. Elizabeth encarregou-se ela própria de fazer a comunicação a sua mãe. Não sabia como a Sr.a Bennet reagiria, e por vezes duvidava de que toda a fortuna e importância de Darcy não fossem suficientes para vencer a antipatia que sua mãe tinha por ele. Porém, quer a Sr.a Bennet se declarasse violentamente contra o casamento, ou violentamente a favor, a filha estava certa de que a sua atitude seria pouco conveniente e sensata, e ela não estava disposta a tolerar que o Sr. Darcy assistisse às primeiras manifestações da sua alegria ou à veemência da sua desaprovação.

À noite, pouco depois de o Sr. Bennet se recolher à sua biblioteca, Elizabeth viu o Sr. Darcy levantar-se igualmente e segui-lo, e ela ficou numa agitação extrema. Não receava a oposição do pai, mas sabia que o ia desgostar; e a ideia de que ela, a sua filha favorita, lhe causaria uma grande decepção com a sua escolha, enchendo-o de preocupações quanto ao seu futuro, fê-la aguardar, em profunda angústia e aflição, o momento em que o Sr. Darcy tornou a aparecer. Este sorriu-lhe e ela sentiu-se um pouco aliviada. Poucos minutos depois, ele aproximou-se da mesa onde Elizabeth estava sentada com Kitty e, fingindo admirar o trabalho que ela executava, sussurou-lhe ao ouvido:

- Vá até à biblioteca. O seu pai quer falar-lhe.

Elizabeth partiu imediatamente.

Seu pai caminhava de um lado para o outro, com uma expressão grave e ansiosa.

- Lizzy - disse ele -, que fazes? Estarás no teu juízo perfeito aceitando este homem? Não o odiavas?

Naquele momento Elizabeth desejou ardentemente ter exprimido as suas opiniões anteriores com menos ênfase!
Ter-lhe-ia poupado as explicações embaraçosas que agora se via obrigada a fazer. Era necessário. E, um tanto confusa, assegurou o pai da sua afeição pelo Sr. Darcy.

- Ou, por outras palavras, estás decidida a tê-lo para ti. Ele é rico, decerto, e poderás ter roupas e carruagens ainda mais belas do que as de Jane, mas tudo isso te fará feliz?

- Não tem outra objecção a fazer-me - disse Elizabeth - senão a sua suposição de que eu lhe seja indiferente?

- Nenhuma. Todos sabemos que ele é um homem orgulhoso e desagradável; mas nada disso contaria aos nossos olhos se gostasses realmente dele.

- Gosto, gosto muito dele - replicou ela, com lágrimas nos olhos. - Amo-o sinceramente. O seu orgulho não é injustificado e ele é um homem bom e generoso. O pai não o conhece bem, por isso não me magoe falando nesses termos a respeito dele.

- Lizzy - respondeu o Sr. Bennet -, eu já lhe dei o meu consentimento. Ele é realmente um daqueles homens a quem eu nunca recusaria coisa alguma que ele condescendesse em pedir. E agora torno a dá-lo a ti, se estás verdadeiramente decidida a obtê-lo. Mas deixa que te aconselhe a reflectir mais sobre o assunto. Conheço o teu génio, Lizzy, e sei que jamais poderás ser feliz sem que estimes verdadeiramente o teu marido, sem que o consideres teu superior. A tua vivacidade e inteligência colocar-te-iam numa situação de grande perigo num casamento desigual. Cairias facilmente nas garras do descrédito e da miséria. Minha filha, não me dês o desgosto de te ver impossibilitada de respeitar o companheiro da tua vida. Não te dás conta da gravidade do momento.

Elizabeth, ainda mais emocionada, respondeu-lhe solene e gravemente; e por fim, após repetidas vezes afirmar que o Sr. Darcy era realmente o homem da sua vida, explicar a mudança gradual por que tinha passado a sua estima por ele, relatar a absoluta certeza que tinha da sua afeição, que não era coisa de momento, mas que resistira à experiência de muitos meses de incerteza, e enumerar com energia todas as qualidades do seu futuro marido, acabou por conquistar a incredulidade do pai e reconciliá-lo com a ideia do casamento.


- Pois bem, minha querida - disse ele, quando Elizabeth acabou de falar. - Nada mais tenho para te dizer. Se é esse o caso, ele merece-te. Nunca me poderia separar de ti, minha querida Lizzy, entregando-te a alguém menos digno da tua estima.

Para completar a impressão favorável de seu pai, ela então relatou-lhe o que o Sr. Darcy voluntariamente fizera por Lydia. Ele ouviu-a com um espanto ilimitado.

- Realmente, esta é uma noite de surpresas! E assim, Darcy tratou de tudo! Fez o casamento, deu dinheiro, pagou as dívidas do outro e arranjou-lhe um novo cargo? Tanto melhor. Poupa-me inúmeros incómodos e avultada soma de dinheiro. Se tudo tivesse sido feito pelo teu tio, sentir-me-ia na obrigação de lhe pagar, e tê-lo-ia feito; mas estes jovens violentamente apaixonados hão-de querer tudo a seu modo. Oferecer-me-ei, amanhã, para lhe pagar, mas ele protestará com veemência, alegando o seu amor por ti e pôr-se-á ponto final no assunto.

O Sr. Bennet lembrou-se, então, do embaraço de Elizabeth a propósito da carta do Sr. Collins; e, após brincar com ela sobre o assunto, deixou-a finalmente partir, dizendo-lhe, quando ela já ia perto da porta:

- Se chegarem alguns jovens para Mary e para Kitty, manda-os entrar, pois estou à disposição.

Elizabeth sentia-se aliviada de um grande peso; e, após reflectir calmamente no seu quarto durante meia hora, voltou para junto dos outros com um rosto calmo e sereno. Tudo era ainda muito recente para que a sua alegria transbordasse.

A noite passou tranquilamente; nada mais havia a temer e a calma voltaria aos poucos.

Quando a sua mãe subiu para o quarto, Elizabeth acompanhou-a e fez-lhe a importante comunicação. O efeito foi extraordinário, pois, ao ouvi-la, a Sr.a Bennet permaneceu completamente imóvel, incapaz de pronunciar urna palavra. Sob passados largos minutos ela pôde compreender o que ouvira, embora estivesse sempre atenta a tudo o que redundasse em proveito para a família, ou que se lhe apresentasse sob o aspecto de um noivo para qualquer uma das suas filhas. Finalmente, ela começou a voltar a si e a mexer-se na cadeira; levantou-se, tornou a sentar-se, abriu a boca de espanto e persignou-se.

- Deus do Céu! Deus me abençoe! Imagine-se! Quem poderia supor!? O Sr. Darcy! É mesmo verdade? Oh, minha querida Lizzy! Como serás rica e importante! Que mesadas, que jóias e que carruagens tu não terás! O casamento de Jane nada é em comparação com o teu! Sinto-me tão feliz, tão contente! Que homem encantador! Tão belo! Tão alto! Oh, minha querida Lizzy, perdoa-me ter antipatizado com ele no princípio! Estou certa de que ele me perdoará. Minha querida Lizzy... uma casa em Londres! Tudo o que há de melhor! Três filhas casadas! Dez mil libras por ano! Meu Deus do Céu, que será de mim? Enlouqueço.

Tais exclamações foram suficientes para mostrar que não havia dúvidas quanto à sua aprovação; e Elizabeth, felicitando-se por ser a única testemunha daquela efusão, em breve se retirou. Porém, ainda ela não se encontrava há bem três minutos no seu quarto, quando a sua mãe de novo lhe apareceu:

- Minha querida filha - exclamou ela -, não posso pensar noutra coisa! Dez mil libras por ano, e talvez mais! É tão bom como se se tratasse de um lorde! É necessário obter uma licença especial! Mas, meu querido amor, diz-me qual o prato preferido do Sr. Darcy, para eu lho dar amanhã.

Era um triste prenúncio do que poderia ser o comportamento da mãe para com o próprio cavalheiro; e Elizabeth descobriu que, embora de posse dos mais calorosos dos afectos e tranquila quanto ao consentimento dos pais, havia ainda algo a desejar. Mas o dia seguinte passou-se muito melhor do que ela esperara, pois a Sr.a Bennet, afortunadamente, tinha tanto respeito pelo seu futuro genro que só se atreveu a dirigir-lhe a palavra para lhe dizer alguma amabilidade ou manifestar a sua deferência pelas opiniões dele.

Elizabeth viu com satisfação o seu pai fazer esforços para melhor o conhecer; e o Sr. Bennet em breve a assegurou de que a sua estima por ele crescia a todo o momento.

- Tenho grande admiração pelos meus três genros - disse ele-: Wickham é talvez o meu preferido, mas creio que gostarei tanto do teu marido como do de Jane.

Um comentário:

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