quinta-feira, 17 de maio de 2012

Capítulo 37 - Elizabeth vai embora de Hunsford

Capítulo 37 

Elizabeth vai embora de Hunsford


Sábado de manhã, Elizabeth e o Sr. Collins encontraram-se à hora do pequeno-almoço, momentos antes de os outros aparecerem; e ele aproveitou a oportunidade para apresentar as suas despedidas com toda a formalidade que ele julgava indispensável.

- Não sei, Menina Elizabeth - proferiu ele -, se a Sr.a Collins já teve a ocasião de lhe exprimir a gratidão pela visita que nos fez; mas estou certo de que não deixará esta casa sem receber todos os seus agradecimentos. Asseguro-lhe que o privilégio da sua companhia foi muito apreciado. Temos consciência dos reduzidos atractivos que a nossa humilde habitação possa possuir. A nossa vida simples, a exiguidade das dependências, o pequeno número dos criados e o pouco que vemos do mundo devem tornar Hunsford extremamente aborrecido para uma jovem como a menina. Espero, contudo, que acreditará que tenhamos feito tudo em nosso poder para passar o seu tempo da forma mais agradável e que não duvidará da nossa gratidão pela sua condescendência.

Elizabeth respondeu, exprimindo-lhe os seus calorosos agradecimentos e assegurando-lhe que tinha passado uma temporada muito feliz. Tinham sido seis semanas muito agradáveis; e o prazer de estar com Charlotte, assim como as numerosas atenções de que ela fora alvo, faziam que fosse ela quem devesse mostrar-se reconhecida. O Sr. Collins ficou satisfeito, e, sorrindo, replicou com solenidade:

- Sinto enorme alegria por saber que não passou o seu tempo de forma desagradável. Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance; e tivemos a felicidade de ter podido apresentá-la à mais alta sociedade. Graças às nossas relações com Rosings, tivemos a oportunidade de variar frequentemente a humilde cena doméstica, e creio podermo-nos gabar de lhe termos proporcionado assim uma visita a Hunsford pouco enfadonha. A nossa situação relativamente à família de Lady Catherine é realmente uma dessas extraordinárias vantagens de que poucos se podem gabar. Viu a intimidade que temos e os convites frequentes que recebemos. Na verdade, é preciso reconhecer que, apesar de todos os inconvenientes deste humilde presbitério, os seus hóspedes não são de modo algum objecto de compaixão, desde o momento em que compartilham da nossa intimidade com Rosings.

As palavras eram insuficientes para traduzir a elevação dos seus sentimentos; e, na sua agitação, ele pôs-se a caminhar de um lado para o outro na sala, enquanto Elizabeth procurava, em frases curtas, servir simultaneamente a delicadeza e a verdade.

- Creio que poderá levar consigo para o Hertfordshire um relato muito favorável a nosso respeito, minha cara prima - continuou ele. - Estou certo de que possui, pelo -menos, todos os meios para isso. Presenciou as atenções com que quase diariamente Lady Catherine cumula a Sr.a Collins; e espero que se tenha tornado evidente que a sua amiga não fez mal ao... mas sobre este ponto prefiro guardar o meu silêncio. Permita-me apenas, minha querida Menina Elizabeth, que lhe deseje do fundo do coração uma felicidade igual no casamento. A minha adorável Charlotte e eu só temos um espírito e um pensamento. Existe sob todos os aspectos, entre nós, uma notável semelhança de carácter e de ideias. Tudo indica que nascemos um para o outro.

Elizabeth pôde afirmar que era essa uma grande felicidade e com igual sinceridade acrescentou que ela acreditava firmemente na sua harmonia domestica, com o que muito se alegrava. Não a contrariou, contudo, ter sido interrompida no seu discurso pela entrada da pessoa cuja felicidade comentavam. Pobre Charlotte! Era triste deixá-la só em tal companhia. No entanto, era necessário reconhecer que ela escolhera de olhos abertos; e, embora aparentasse uma certa tristeza por as ver partir, não parecia querer solicitar a sua compaixão. A casa, as tarefas domésticas, a paróquia, a sua criação de aves de capoeira e tudo o mais ainda não haviam perdido o seu encanto. Finalmente, a carruagem chegou, as malas foram amarradas, os embrulhos levados para o interior e a partida anunciada. Depois de afectuosa despedida, Elizabeth foi conduzida até à carruagem pelo Sr. Collins, e, enquanto atravessavam o jardim, este encarregou-a de transmitir os seus mais respeitosos cumprimentos a toda a sua família, não esquecendo os seus agradecimentos pelas atenções que recebera em Longbourn quando ali estivera e as suas saudações para o Sr. e a Sr.a Gardiner, embora não tivesse o prazer de os conhecer. Então, ele ajudou-a a subir para a carruagem. Maria imitou-a, e a porta estava a ponto de ser fechada quando, de súbito, ele lembrou que elas se tinham esquecido de deixar qualquer mensagem para as senhoras de Rosings.

- Naturalmente - acrescentou ele - desejarão que eu transmita os vossos humildes respeitos, com os vossos mais cordiais agradecimentos, pela bondade de que foram objecto enquanto aqui permaneceram?

Elizabeth não pôs objecção; a porta pôde ser finalmente fechada e a carruagem afastou-se.

- Meu Deus! - exclamou Maria, após alguns minutos de silêncio. - Parece que chegamos ontem, e, no entanto, quanta coisa não sucedeu!

- Muita coisa, de facto - concordou Elizabeth, com um suspiro.

- Jantamos nove vezes em Rosings, além das duas vezes que lá fomos tomar o chá. O que eu tenho para contar! E Elizabeth, interiormente, acrescentou: «E o que eu tenho para esconder!»

A viagem decorreu praticamente em silêncio e sem qualquer incidente. Quatro horas depois de terem saído de Hunsford chegaram a casa do Sr. Gardiner, onde deveriam passar alguns dias.

Jane parecia de perfeita saúde e Elizabeth não teve oportunidade de observar as verdadeiras disposições de sua irmã, graças aos vários divertimentos que a sua tia tivera a bondade de organizar para elas. Mas Jane regressaria com ela e em Longbourn teria a ocasião de a observar mais detidamente. Não foi sem esforço, no entanto, que ela esperou até Longbourn para contar à irmã a resposta do Sr. Darcy. Sabia ter em seu poder a possibilidade de fazer uma revelação que não só causaria grande assombro em Jane como despertaria agradavelmente em si o resto de vaidade que lhe restava. Era uma tentação a que nada se poderia opor, senão o estado de indecisão em que ela se encontrava sobre o número exacto de factos que deveria revelar e o medo de ter de repetir certas coisas a respeito de Bingley que poderiam ferir Jane ainda mais.

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