quinta-feira, 17 de maio de 2012

Capítulo 31 - Sr. Darcy e Elizabeth conversam à sós em casa de Charlotte

Capítulo 31
  
 Sr. Darcy e Elizabeth conversam à sós em casa de Charlotte



Na manhã seguinte, encontrava-se Elizabeth, na ausência da Sr.a Collins e de Maria, que tinham ido fazer compras à aldeia, sozinha em casa e escrevendo a Jane, quando a campainha da porta a fez sobressaltar. Como não ouvira o ruído de qualquer carruagem, calculou que se tratasse de Lady Catherine e, apreensiva, tratou de esconder a carta que escrevia, a fim de evitar perguntas indiscretas, quando a porta se abriu e, para sua grande surpresa, o Sr. Darcy, e o Sr. Darcy apenas, entrou na sala.

Ele pareceu igualmente surpreendido por a encontrar só e desculpou-se pela intrusão, dizendo ter pensado encontrar todas as senhoras em casa.


Sentaram-se, então, e após ela se ter delicadamente informado sobre as moradoras de Rosings, pareciam ir cair num silêncio total. Era, pois, absolutamente necessário introduzir qualquer assunto; e, nessa emergência, Elizabeth, lembrando-se da última vez em que o vira no Hertfordshire e curiosa de saber o que ele diria para justificar a sua súbita partida, observou:

- Com que precipitação deixaram todos Netherfield em Novembro passado, Sr. Darcy! Deve ter sido uma surpresa muito agradável para o Sr. Bingley revê-los a todos tão cedo, pois, se não me engano, ele partira no dia anterior. Ele e as irmãs encontravam-se bem, espero, desde a última vez que os viu em Londres?

- Perfeitamente, obrigado.

Elizabeth compreendeu que não receberia outra resposta; e, após uma curta pausa, acrescentou:

- Pelo que me foi dado entender, o Sr. Bingley não faz tenção de voltar a Netherfield?

- Nunca o ouvi dizer tal coisa; mas é provável que daqui para o futuro ele lhe dedique menos tempo. Ele tem muitos amigos e está numa idade em que os amigos e os compromissos aumentam continuamente.

- Se ele tenciona passar tão pouco tempo em Netherfield, seria preferível para a vizinhança que ele desistisse inteiramente do lugar, pois, nessa altura, instalar-se-ia ali outra família. Contudo, talvez o Sr. Bingley o tenha tomado pensando menos na conveniência dos vizinhos do que na sua própria, e, nesse caso, não teremos mais do que aguardar que ele, baseado nesse mesmo princípio, a conserve ou desista dela.


- Não me surpreenderia que ele optasse pela desistência, mal se lhe oferecesse uma oportunidade vantajosa - respondeu Darcy.

Elizabeth nada acrescentou. Receava continuar falando do amigo dele; e, como nada mais tinha para lhe dizer, resolveu deixar ao cargo dele a tarefa de encontrar um novo assunto.

Ele compreendeu-a e logo começou:

- Esta casa parece muito acolhedora. Lady Catherine, creio eu, reformou-a bastante com a vinda do Sr. Collins para Hunsford.

- Creio que sim, e estou certa de que ela não poderia ter dispensado a sua bondade a uma pessoa mais reconhecida.

- O Sr. Collins parece ter tido muita sorte com a esposa que escolheu.

- Com efeito. Os seus parentes têm motivos para satisfação, pois ele encontrou uma das poucas mulheres sensatas que alguma vez o teriam aceite, e, aceitando-o, o teriam feito feliz. A minha amiga é muito compreensiva, e, embora não considere o seu casamento com o Sr. Collins um dos seus actos mais ajuizados, reconheço que ela parece perfeitamente feliz; e, considerando as coisas sob o ponto de vista da prudência, ela realizou, de facto, o casamento ideal.

- Deve ser muito agradável para ela ter a sua casa a uma distância relativamente pequena da dos seus pais e amigos.

- Uma distância pequena, diz o senhor? São perto de cinquenta milhas.

- E o que são cinquenta milhas numa boa estrada? Pouco mais do que meio dia de viagem. Sim, considero uma distância bastante viável.

- Nunca me lembraria de considerar a distância como uma das vantagens do casamento - exclamou Elizabeth. - Jamais teria dito que a Sr.a Collins se encontra instalada «perto» da sua família.

- É uma prova da sua afeição pelo Hertfordshire. Qualquer lugar que não se encontre nas proximidades de Longbourn lhe deve parecer longínquo.

Enquanto falava, havia nele uma espécie de sorriso que Elizabeth julgou compreender; ele devia supor que ela estava a pensar em Jane e em Netherfield e enrubesceu ao responder-lhe:

- Não quis com isso dizer que uma mulher não deva morar um pouco longe da família. Longe ou perto, ambos são relativos e dependem de várias circunstâncias. Quando existem meios e as despesas da viagem são de pouca monta, a distância não oferece inconveniente. Mas não é este o caso. O Sr. e a Sr.a Collins usufruem de um rendimento que lhes permitirá uma viagem confortável, embora não frequente, e estou persuadida de que a minha amiga só se consideraria «perto» da família e se encontrasse a metade da distância a que realmente se encontra.

O Sr. Darcy aproximou um pouco a sua cadeira e disse:

- Mas a menina não pode alimentar em si sentimento tão bairrista. Não poderá viver sempre em Longbourn.

Elizabeth olhou-o, surpreendida. O Sr. Darcy pareceu mudar de ideia; recuou a cadeira, pegou num jornal que se encontrava em cima da mesa e, relanceando-o, disse num tom de voz mais frio:

- Agrada-lhe o Kent?

Seguiu-se um curto diálogo sobre o condado, calmo e conciso de ambas as partes, que a chegada de Charlotte e de sua irmã, um pouco depois, veio interromper. O tête-á-tête pareceu surpreendê-las. O Sr. Darcy contou-lhes o engano que ocasionara a intrusão e, após ter permanecido sentado mais alguns minutos num silêncio quase absoluto, foi-se embora.

- Que quererá isto dizer? - disse Charlotte, após ele ter partido. - Minha querida Eliza, ele está decerto apaixonado por ti, ou nunca nos teria visitado com tão sem-cerimônia.

Mas, quando Elizabeth lhes contou do seu silêncio, a ideia pareceu menos plausível, mesmo para Charlotte, que a desejava; e, após várias conjecturas, elas concluíram finalmente que a visita se devia apenas à dificuldade de encontrar qualquer outra coisa em que se ocupar, o que não era de estranhar para a época do ano. Todos os desportos ao ar livre estavam fora de questão. Dentro de casa havia Lady Catherine, livros e uma mesa de bilhar, o que nunca entreteria um homem por muito tempo; e, ou porque o presbitério se encontrava tão próximo, ou porque o passeio até lá era agradável, ou ainda porque os seus moradores os interessavam de certo modo, o facto é que os dois primos se sentiam tentados a percorrer aquela distância quase todas as manhãs. Chegavam a horas variadas, por vezes juntos, outras vezes separados, e de vez em quando acompanhados pela tia. Tornava-se evidente a todos que o coronel Fitzwilliam vinha porque se sentia bem na companhia dos moradores de Hunsford, facto esse que por si só abonava em seu favor; e a satisfação que Elizabeth experimentava ao vê-lo, bem como aquela com a qual recebia a sua evidente admiração, lembrava-lhe o seu antigo favorito George Wickham; e, embora, ao compará-los, visse que havia menos doçura cativante nas maneiras do coronel Fitzwilliam, acreditava que dos dois fosse ele o mais bem formado.

Mas por que viria o Sr. Darcy com tanta frequência ao presbitério era mais difícil de compreender. Não seria, decerto, pelo prazer da companhia, pois ele permanecia a maior parte do tempo calado, por vezes durante dez minutos seguidos; e, quando falava, parecia fazê-lo mais por obrigação do que por prazer. Raramente se animava. A Sr.a Collins não sabia o que fazer com ele. O coronel Fitzwilliam costumava troçar do ar sorumbático do primo, o que provava que numa situação normal ele não se comportaria assim; e, como ela gostaria de ver nessa mudança o efeito do amor e como objecto desse amor a sua amiga Eliza, Charlotte dispôs-se seriamente a procurar a causa de tal atitude.
Observava-o sempre que o encontrava em Rosings, ou quando ele visitava Hunsford, mas sem grande sucesso. Ele olhava, de facto, bastante para a sua amiga, mas era duvidosa a expressão daquele olhar. Era um olhar sério, fixo, mas Charlotte não estava certa de que se tratasse de um olhar admirativo, parecendo-lhe por vezes não passar de distracção.

Uma ou duas vezes sugerira a Elizabeth a possibilidade de o Sr. Darcy se achar interessado por ela, mas esta ria-se sempre de semelhante ideia; e a Sr.a Collins achou mais prudente guardar para si as suas suspeitas e não despertar esperanças que pudessem acabar em desapontamento; pois, na sua opinião, toda a relutância da amiga se desvaneceria no momento em que o supusesse em seu poder.

Nos planos que, fruto da sua afeição, arquitectava para Elizabeth, por vezes imaginava-a casando-se com o coronel Fitzwilliam. Ele era, sem comparação, o mais simpático; admirava-a, sem dúvida, e a sua situação na vida era de destaque; mas, a contrabalançar tais vantagens, enquanto o Sr. Darcy tinha considerável influência na Igreja, o seu primo não tinha nenhuma.


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