Capítulo 31
Sr. Darcy e Elizabeth conversam à sós em casa de Charlotte
Na manhã seguinte, encontrava-se Elizabeth, na ausência da Sr.a Collins e de Maria, que tinham ido fazer compras à aldeia, sozinha em casa e escrevendo a Jane, quando a campainha da porta a fez sobressaltar. Como não ouvira o ruído de qualquer carruagem, calculou que se tratasse de Lady Catherine e, apreensiva, tratou de esconder a carta que escrevia, a fim de evitar perguntas indiscretas, quando a porta se abriu e, para sua grande surpresa, o Sr. Darcy, e o Sr. Darcy apenas, entrou na sala.
Ele pareceu
igualmente surpreendido por a encontrar só e desculpou-se pela intrusão,
dizendo ter pensado encontrar todas as senhoras em casa.
Sentaram-se, então, e após ela se ter delicadamente informado sobre as moradoras de Rosings, pareciam ir cair num silêncio total. Era, pois, absolutamente necessário introduzir qualquer assunto; e, nessa emergência, Elizabeth, lembrando-se da última vez em que o vira no Hertfordshire e curiosa de saber o que ele diria para justificar a sua súbita partida, observou:
- Com que
precipitação deixaram todos Netherfield em Novembro passado, Sr. Darcy! Deve
ter sido uma surpresa muito agradável para o Sr. Bingley revê-los a todos tão
cedo, pois, se não me engano, ele partira no dia anterior. Ele e as irmãs
encontravam-se bem, espero, desde a última vez que os viu em Londres?
- Perfeitamente,
obrigado.
Elizabeth
compreendeu que não receberia outra resposta; e, após uma curta pausa,
acrescentou:
- Pelo que me
foi dado entender, o Sr. Bingley não faz tenção de voltar a Netherfield?
- Nunca o ouvi
dizer tal coisa; mas é provável que daqui para o futuro ele lhe dedique menos
tempo. Ele tem muitos amigos e está numa idade em que os amigos e os compromissos
aumentam continuamente.
- Se ele
tenciona passar tão pouco tempo em Netherfield, seria preferível para a
vizinhança que ele desistisse inteiramente do lugar, pois, nessa altura,
instalar-se-ia ali outra família. Contudo, talvez o Sr. Bingley o tenha tomado
pensando menos na conveniência dos vizinhos do que na sua própria, e, nesse
caso, não teremos mais do que aguardar que ele, baseado nesse mesmo princípio,
a conserve ou desista dela.
- Não me
surpreenderia que ele optasse pela desistência, mal se lhe oferecesse uma
oportunidade vantajosa - respondeu Darcy.
Elizabeth nada
acrescentou. Receava continuar falando do amigo dele; e, como nada mais tinha
para lhe dizer, resolveu deixar ao cargo dele a tarefa de encontrar um novo
assunto.
Ele
compreendeu-a e logo começou:
- Esta casa
parece muito acolhedora. Lady Catherine, creio eu, reformou-a bastante com a
vinda do Sr. Collins para Hunsford.
- Creio que sim,
e estou certa de que ela não poderia ter dispensado a sua bondade a uma pessoa
mais reconhecida.
- O Sr. Collins
parece ter tido muita sorte com a esposa que escolheu.
- Com efeito. Os
seus parentes têm motivos para satisfação, pois ele encontrou uma das poucas
mulheres sensatas que alguma vez o teriam aceite, e, aceitando-o, o teriam
feito feliz. A minha amiga é muito compreensiva, e, embora não considere o seu
casamento com o Sr. Collins um dos seus actos mais ajuizados, reconheço que ela
parece perfeitamente feliz; e, considerando as coisas sob o ponto de vista da
prudência, ela realizou, de facto, o casamento ideal.
- Deve ser muito
agradável para ela ter a sua casa a uma distância relativamente pequena da dos
seus pais e amigos.
- Uma distância
pequena, diz o senhor? São perto de cinquenta milhas.
- E o que são
cinquenta milhas numa boa estrada? Pouco mais do que meio dia de viagem. Sim,
considero uma distância bastante viável.
- Nunca me
lembraria de considerar a distância como uma das vantagens do casamento -
exclamou Elizabeth. - Jamais teria dito que a Sr.a Collins se encontra
instalada «perto» da sua família.
- É uma prova da
sua afeição pelo Hertfordshire. Qualquer lugar que não se encontre nas
proximidades de Longbourn lhe deve parecer longínquo.
Enquanto falava,
havia nele uma espécie de sorriso que Elizabeth julgou compreender; ele devia
supor que ela estava a pensar em Jane e em Netherfield e enrubesceu ao
responder-lhe:
- Não quis com
isso dizer que uma mulher não deva morar um pouco longe da família. Longe ou
perto, ambos são relativos e dependem de várias circunstâncias. Quando existem
meios e as despesas da viagem são de pouca monta, a distância não oferece
inconveniente. Mas não é este o caso. O Sr. e a Sr.a Collins usufruem de um
rendimento que lhes permitirá uma viagem confortável, embora não frequente, e
estou persuadida de que a minha amiga só se consideraria «perto» da família e
se encontrasse a metade da distância a que realmente se encontra.
O Sr. Darcy
aproximou um pouco a sua cadeira e disse:
- Mas a menina
não pode alimentar em si sentimento tão bairrista. Não poderá viver sempre em
Longbourn.
Elizabeth
olhou-o, surpreendida. O Sr. Darcy pareceu mudar de ideia; recuou a cadeira,
pegou num jornal que se encontrava em cima da mesa e, relanceando-o, disse num
tom de voz mais frio:
- Agrada-lhe o
Kent?
Seguiu-se um
curto diálogo sobre o condado, calmo e conciso de ambas as partes, que a
chegada de Charlotte e de sua irmã, um pouco depois, veio interromper. O
tête-á-tête pareceu surpreendê-las. O Sr. Darcy contou-lhes o engano que
ocasionara a intrusão e, após ter permanecido sentado mais alguns minutos num
silêncio quase absoluto, foi-se embora.
- Que quererá
isto dizer? - disse Charlotte, após ele ter partido. - Minha querida Eliza, ele
está decerto apaixonado por ti, ou nunca nos teria visitado com tão
sem-cerimônia.
Mas, quando
Elizabeth lhes contou do seu silêncio, a ideia pareceu menos plausível, mesmo
para Charlotte, que a desejava; e, após várias conjecturas, elas concluíram
finalmente que a visita se devia apenas à dificuldade de encontrar qualquer
outra coisa em que se ocupar, o que não era de estranhar para a época do ano.
Todos os desportos ao ar livre estavam fora de questão. Dentro de casa havia
Lady Catherine, livros e uma mesa de bilhar, o que nunca entreteria um homem
por muito tempo; e, ou porque o presbitério se encontrava tão próximo, ou
porque o passeio até lá era agradável, ou ainda porque os seus moradores os
interessavam de certo modo, o facto é que os dois primos se sentiam tentados a
percorrer aquela distância quase todas as manhãs. Chegavam a horas variadas,
por vezes juntos, outras vezes separados, e de vez em quando acompanhados pela
tia. Tornava-se evidente a todos que o coronel Fitzwilliam vinha porque se
sentia bem na companhia dos moradores de Hunsford, facto esse que por si só
abonava em seu favor; e a satisfação que Elizabeth experimentava ao vê-lo, bem
como aquela com a qual recebia a sua evidente admiração, lembrava-lhe o seu
antigo favorito George Wickham; e, embora, ao compará-los, visse que havia
menos doçura cativante nas maneiras do coronel Fitzwilliam, acreditava que dos
dois fosse ele o mais bem formado.
Mas por que viria
o Sr. Darcy com tanta frequência ao presbitério era mais difícil de
compreender. Não seria, decerto, pelo prazer da companhia, pois ele permanecia
a maior parte do tempo calado, por vezes durante dez minutos seguidos; e,
quando falava, parecia fazê-lo mais por obrigação do que por prazer. Raramente
se animava. A Sr.a Collins não sabia o que fazer com ele. O coronel Fitzwilliam
costumava troçar do ar sorumbático do primo, o que provava que numa situação
normal ele não se comportaria assim; e, como ela gostaria de ver nessa mudança
o efeito do amor e como objecto desse amor a sua amiga Eliza, Charlotte
dispôs-se seriamente a procurar a causa de tal atitude.
Observava-o
sempre que o encontrava em Rosings, ou quando ele visitava Hunsford, mas sem
grande sucesso. Ele olhava, de facto, bastante para a sua amiga, mas era
duvidosa a expressão daquele olhar. Era um olhar sério, fixo, mas Charlotte não
estava certa de que se tratasse de um olhar admirativo, parecendo-lhe por vezes
não passar de distracção.
Uma ou duas
vezes sugerira a Elizabeth a possibilidade de o Sr. Darcy se achar interessado
por ela, mas esta ria-se sempre de semelhante ideia; e a Sr.a Collins achou
mais prudente guardar para si as suas suspeitas e não despertar esperanças que
pudessem acabar em desapontamento; pois, na sua opinião, toda a relutância da
amiga se desvaneceria no momento em que o supusesse em seu poder.
Nos planos que,
fruto da sua afeição, arquitectava para Elizabeth, por vezes imaginava-a
casando-se com o coronel Fitzwilliam. Ele era, sem comparação, o mais
simpático; admirava-a, sem dúvida, e a sua situação na vida era de destaque;
mas, a contrabalançar tais vantagens, enquanto o Sr. Darcy tinha considerável
influência na Igreja, o seu primo não tinha nenhuma.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAaaaa ameeeiii♡♡♡ tá na cara que o Darcy é a melhor escolha ♡ #teamdarcy♡♡
ResponderExcluirCom certeza!!!! ❤
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