- Se me vejo com
uma das minhas filhas instalada e feliz em Netherfield - disse a Sr.a Bennet
para o marido - e todas as outras igualmente bem casadas, nada mais terei a
desejar na vida.
Passados poucos
dias, o Sr. Bingley retribuiu a visita que lhe fora feita pelo Sr. Bennet e com
ele conversou durante cerca de dez minutos no seu escritório. O jovem
alimentara a esperança de ver as raparigas, sobre cuja beleza tanto ouvira
falar, mas apenas se avistou com o pai. Elas, porém, tiveram um pouco mais de
sorte, pois do alto de uma janela puderam verificar que ele envergava um fato
azul e montava um cavalo preto.
O Sr. Bingley em
breve tinha feito conversa a todas as principais pessoas na sala. Alegre e
animado, dançou todas as danças, lamentou o baile terminar tão cedo e falou em
ele próprio realizar um em Netherfield. Tais qualidades, só por si, falavam. E
que contraste entre ele e o seu amigo! O Sr. Darcy dançou apenas uma vez com a
Sr.a Hurst e outra com a Menina Bingley, recusou ser apresentado a qualquer
outra jovem e passou o resto da noite passeando pelo salão, conversando
ocasionalmente com um ou outro do seu grupo.
O seu caracter
estava definido. Era o homem mais orgulhoso e desagradável do mundo, e todos
esperavam que ele não mais voltasse ao seu convívio. Entre as pessoas mais
inflamadas contra ele contava-se a Sr.a Bennet, cuja antipatia pelo seu
comportamento geral se avivara num ressentimento particular por ele ter
desdenhado uma das suas filhas.
Elizabeth
Bennet, que a escassez de cavalheiros obrigara a permanecer sentada duas
danças, teve a oportunidade, numa altura em que o Sr. Darcy se encontrava perto
de si, de ouvir a conversa que se seguiu entre ele e o Sr. Bingley, que por
momentos abandonara a dança para o vir incitar a juntar-se-lhe:
- Vem daí, Darcy
- disse-lhe -, quero que venhas dançar. Detesto ver-te por aí sozinho. Fazias
melhor se viesses dançar.
- Não contes
comigo. Sabes perfeitamente quanto isso me custa, desde que não conheça
intimamente o meu par. Aliás, com gente como esta isso ser-me-ia insuportável.
As tuas irmãs tem cada uma o seu par e não há outra mulher na sala cuja
companhia não se tornasse num suplício para mim.
- Se fosse a ti,
deixava-me de esquisitices - exclamou Bingley. - Por Deus! Palavra de honra que
nunca na minha vida encontrei um grupo de raparigas tão agradável como o que
aqui temos esta noite, e, como podes ver, algumas delas são invulgarmente
bonitas.
- Tu estás
precisamente a dançar com a única rapariga bonita da sala - disse o Sr. Darcy,
olhando para a mais velha das irmãs Bennet.
- Oh!, ela é a
criatura mais bela que eu jamais vi! Mas, sentada mesmo atrás de ti, está
precisamente uma das suas irmãs, que, além de muito bonita, me parece ser
bastante simpática. Deixa que o meu par te a apresente.
- Qual dizes? -
e, voltando-se, olhou demoradamente para Elizabeth, até que esta,
devolvendo-lhe o olhar, o fez desviar o seu, e friamente declarou: - é
razoável, mas não suficientemente bonita para me tentar. Aliás, de momento não
me sinto na disposição de consolar as jovens que outros desdenharam. Vai tu
para junto do teu par e desfruta-lhe os sorrisos, que comigo perdes o teu
tempo.
O Sr. Bingley
seguiu o conselho do amigo, e o Sr. Darcy afastou-se, deixando uma impressão
pouco favorável a seu respeito no íntimo de Elizabeth. Esta, contudo, ao contar
a história às amigas, fê-lo com um certo humor, pois, de feitio alegre e
brincalhão, tirava partido das situações mais ridículas.
De um modo
geral, a noite decorreu agradavelmente para toda a família. A Sr.a Bennet vira
com satisfação a sua filha mais velha ser muito apreciada pelo grupo de
Netherfield. O Sr. Bingley por duas vezes dançara com ela e as duas senhoras
tinham-na rodeado de atenções. Jane sentia-se com isso tão maravilhada como sua
mãe, se bem que de um modo mais discreto. Elizabeth partilhava do prazer de
Jane. Mary ouvira-se elogiada na presença da Menina Bingley como a rapariga
mais completa da vizinhança; e Catherine e Lydia congratulavam-se por não lhes
ter faltado par a noite inteira, o que era, aliás, tudo o que até à altura
tinham aprendido sobre o essencial num baile. Foi, portanto, em óptima
disposição de espírito que tomaram o caminho de regresso a Longbourn, a vila em
que viviam e da qual eram os principais habitantes. Foram encontrar o Sr.
Bennet ainda a pé. Quando mergulhado na leitura de um livro, perdia a noção do
tempo; e naquela ocasião específica ansiava pelo relato de uma
noite que tão
esplêndidas expectativas suscitara. Esperava, contudo, que os planos arquitectados
por sua mulher à volta daquele desconhecido caíssem pela base, mas em breve
descobriu que a história a ouvir seria bem diferente.
- Oh!, meu caro
Sr. Bennet - disse a mulher, mal entrou na sala -, passamos uma noite
encantadora e o baile foi magnífico. Adorava que o senhor lá tivesse estado.
Jane foi tão admirada que nem calcula. Todos falavam nela e o próprio Sr.
Bingley a achou muito atraente e dançou com ela duas vezes!
Imagine-me só, meu caro; por duas vezes dançou com a nossa Jane! E foi ela a única rapariga na sala a quem ele pediu segunda vez para dançar. Primeiro, convidou a Menina Lucas, o que bastante me contrariou, mas não pareceu muito entusiasmado, como é compreensível, pois ela não entusiasma ninguém. Em contrapartida, ficou logo impressionado com Jane, que na altura também dançava, tratou imediatamente de saber quem ela era, foi-lhe apresentado e pedia-lhe para dançar. A seguir dançou com a Menina King e depois com Maria Lucas, a quinta dança foi de novo para Jane e a sexta para Lizzy, e a Boulanger...
Imagine-me só, meu caro; por duas vezes dançou com a nossa Jane! E foi ela a única rapariga na sala a quem ele pediu segunda vez para dançar. Primeiro, convidou a Menina Lucas, o que bastante me contrariou, mas não pareceu muito entusiasmado, como é compreensível, pois ela não entusiasma ninguém. Em contrapartida, ficou logo impressionado com Jane, que na altura também dançava, tratou imediatamente de saber quem ela era, foi-lhe apresentado e pedia-lhe para dançar. A seguir dançou com a Menina King e depois com Maria Lucas, a quinta dança foi de novo para Jane e a sexta para Lizzy, e a Boulanger...
- Se ele tivesse
algum dó por mim - exclamou o marido, impaciente -, não teria dançado nem
metade do que dançou! Por amor de Deus; acabe-me de uma vez com a inumeração
dos pares dele. Oh!, oxalá ele tivesse torcido um pé logo na primeira dança!
- Oh!, meu
querido - continuava a Sr.a Bennet -, estou positivamente encantada com ele. É
tão belo rapaz! E as irmãs são umas pessoas encantadoras. Os seus vestidos eram
de uma elegância como eu nunca vi igual. Quer-me parecer que o galão do vestido
da Sr.a Hurst...
E, aqui, foi de
novo interrompida, pois o Sr. Bennet recusava-se terminantemente a ouvir
qualquer descrição sobre os trajos. Viu-se ela, deste modo, obrigada a
procurar, no mesmo assunto, outro tema de conversa, e passou a relatar, com uma
forte doze de azedume e algum exagero, a chocante insolência do Sr. Darcy.
- Mas também lhe
asseguro - acrescentou - que Lizzy nada perde por não lhe encher o olho, pois
ele é uma criatura extremamente desagradável e horrível, com quem não vale a pena
gastar o seu latim. Que arrogância e presunção a sua! Não fez mais do que
passear-se de um lado para o outro na sala, dando-se ares de grande
importância! Que ela não era suficientemente bonita para ele se tentar! Como eu
desejei a sua presença ali, meu caro, para lhe dizer uma ou duas das suas.
Chego a detestar tal homem.
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